“Se eu tive 64% na pesquisa da Quaest e ela 22% não posso me recusar a disputar”, disse o prefeito João Campos na semana passada. Ao lado dele estavam os senadores petistas Humberto Costa e Teresa Leitão, durante uma conversa sobre a formação do seu novo secretariado. Ele garantiu ao PT a permanência do partido nas duas pastas, de meio-ambiente e habitação.
Depois de tornar claro que vai para a disputa, ele deixou, no entanto, um porém no ar. Pediu apoio para convencer o presidente Lula a apoiá-lo desde já. Mas os próprios petistas não acreditam que vá acontecer, em virtude da boa relação que Lula tem com a governadora Raquel Lyra e a indefinição do cenário nacional para a próxima eleição.
A partir dessa conversa, o prefeito, que vinha se recusando a antecipar o embate eleitoral para o governo do estado. Dessa forma, deu seguidas entrevistas deixando claro que pode sim estar no páreo de 2026. Mas, não se sabe se por estratégia para não parecer arrogante ou por precaução, afirmou: “mas nunca vai ser uma avaliação só minha”.
E quem mais vai ser ouvido sobre este assunto? Ele adiantou que a “Frente Popular”, mas uma fonte do Blog Dellas que circula no entorno do PSB disse, em off, que há pessoas de muita expressão no próprio partido do prefeito que veem com reservas essa pretensão. Alegam que ele pode esperar para 2030 e entendem ser muito cedo para dizer como vai chegar a governadora em popularidade nas vésperas do pleito.
Armando o xadrez
“João sabe que não pode se arriscar a perder. Ele está armando o xadrez dele, segurando a administração e ampliando sua base política. Mas não se brinca com quem está com a caneta na mão. Raquel vai crescer com as entregas que vai fazer e pode surpreender”, afirma a mesma fonte.
E acrescenta: “mas ninguém sabe trabalhar melhor com pesquisas do que o PSB e ele não vai dar um tiro no escuro”.
De sua parte, no entanto, com a esperteza política que herdou do pai Eduardo, João Campos vem, desde a campanha para prefeito, se armando para a guerra.
Arriscou-se a contrariar o PT, escolhendo um vice de sua inteira confiança para substituí-lo em caso de renúncia em abril de 2026. E, agora, no novo secretariado, está confiando as principais pastas para pessoas pinçadas de administrações anteriores do PSB ou do seu primeiro mandato. Está, também, deixando as áreas mais periféricas para partidos como União Brasil, Republicanos e o próprio PT. Entregando, dessa forma, duas pastas para cada um em troca de um grande tempo de TV.
Raul em área especial
A exceção foi o MDB. Destinou uma pasta importante para o presidente estadual do partido, Raul Henry, que será secretário de Relações Institucionais.
Neste caso, ao mesmo tempo que acena para a possibilidade de que o MDB venha a marchar com ele, João deseja fazer de Raul o articulador político de sua confiança não só na Prefeitura como na nova função que vai abraçar de presidente nacional do PSB.
Do ponto de vista político, ele marca, com essa atenção à classe política, uma grande distância da governadora Raquel Lyra que construiu um secretariado todo técnico. Com isso, ela perdeu nomes como o próprio Raul, que chegou a ser cotado para secretário estadual da educação. Miguel Coelho também, um quadro muito importante que a apoiou no segundo turno mas que nem sequer ouvido na formação do Governo.
Na política vence a governadora
Não fosse a distância que fez questão de manter da classe política, Raquel estaria hoje com o MDB, União Brasil e o próprio Republicanos, de Silvio Costa Filho. E João, politicamente, com dificuldades. A não ser que consiga convencer a população, como fez em Caruaru, de que se pode governar bem sem a ajuda direta de políticos, Raquel, que já enfrenta problemas de popularidade, pode trilhar um caminho mais difícil para a reeleição.
Mas nem tudo são flores no caminho do prefeito do Recife que teria hoje, pela pesquisa da Quaest, quase três vezes mais votos do que ela para governador. O seu desejo de ter Lula com exclusividade em seu palanque está difícil de ser concretizado. O presidente depende cada vez mais do Nordeste para sua reeleição. E, nesse caso, os próprios petistas defendem que no estado em que possa ter o apoio dos dois principais candidatos, deve armar dois palanques.
Lula e os dois palanques
“Lula já fez isso aqui em Pernambuco sempre que foi possível. Em 2006, juntou no segundo turno Eduardo Campos e Humberto Costa que haviam disputado o primeiro em palanques separados. Em 2020, mesmo Marília Arraes sendo candidata pelo PT no Recife contra João Campos, ele conseguiu, depois do pleito, se reaproximar de João, apesar das fortes criticas que ele fez ao próprio PT na campanha. Hoje estão todos juntos. Em 2026 pode tranquilamente ser apoiado por Raquel e por João, conseguindo uma quase unanimidade pernambucana”, afirma um importante observador da política estadual.
Nesse caso, João poderia enfrentar dificuldades. Da mesma forma não é certo que, mesmo tendo Raul como secretário em uma importante pasta, o MDB vá apoiá-lo. Há uma grande resistência a isso do senador Fernando Dueire, que deseja se reeleger. Também do deputado estadual Jarbas Filho e de grande parte dos 12 prefeitos emedebistas.
O União Brasil é outra incógnita pois o deputado federal Mendonça Filho é hoje um dos maiores aliados de Raquel. O Republicanos ficará com o prefeito se Sílvio Costa Filho for candidato ao Senado. Já o PT está com um pé lá e outro cá com a senadora Teresa Leitão ao lado de João e o senador Humberto Costa torcendo por Raquel.
De qualquer forma, o prefeito, que vem dando indiretas a Raquel falando que “fazer politica é juntar gente”. E que “não tem medo de sombra” está com o caminho razoavelmente pavimentado. Pode até desistir da disputa para outro nome da Frente Popular mas não vai deixar o cavalo passar selado.