Pesquisadores realizam coleta de DNA para resgatar ancestralidade quilombola em Sertânia

Resgate a ancestralidade quilombola em Sertânia
Resgate a ancestralidade quilombola em Sertânia – Foto: Raphael R. Neves

No coração do Sertão pernambucano, uma iniciativa científica promete fortalecer as raízes históricas e culturais da população quilombola local. Além disso, pretende promover o resgate a ancestralidade quilombola em Sertânia. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Secretaria Municipal de Igualdade Racial de Sertânia e a Secretaria de Saúde, estão conduzindo uma pesquisa inovadora no Quilombo do Severo. A iniciativa é parte do projeto DNA-BCT (Povos Tradicionais) ligado ao programa DNA do Brasil.

O objetivo central é realizar a coleta de amostras de DNA dos moradores quilombolas para mapear a ancestralidade genética das comunidades. Com isso será possível confirmar, por meio da ciência, as origens africanas desses povos, além de contribuir para políticas públicas voltadas à saúde.

Resgatando a memória apagada

O professor Maurício, quilombola e um dos articuladores locais da pesquisa, destacou então a relevância histórica do projeto. “Estamos desenvolvendo a pesquisa DNA-BCT com os povos tradicionais, com os quilombolas, para o programa DNA do Brasil. A partir dessa coleta, vamos saber da nossa ancestralidade e desenvolver ações para valorizar os nossos povos da Sertânia”, afirmou.

A ação, que conta com o apoio do governo municipal, também visa então reparar uma lacuna histórica deixada pela destruição de documentos relacionados à população negra durante a escravidão e pós-abolição. “Existe um abismo muito profundo na história do negro no Brasil. O DNA-BCT tem o potencial de identificar, cientificamente, de onde viemos da África, resgatando uma memória que foi, em muitos casos, apagada”, explicou o pesquisador João Monteiro.

Histórias orais confirmadas pela ciência

Além do Quilombo do Severo, a pesquisa também se estenderá a outras comunidades quilombolas da região, como Riacho dos Porcos, com um total de dez testagens genéticas que irão contemplar principalmente os membros mais velhos das comunidades. Essas amostras serão enviadas para análise na USP, com previsão de resultados para o final do ano.

João Monteiro compartilhou a experiência de outras comunidades que já participaram do projeto, como no Amapá, onde os resultados do DNA confirmaram histórias passadas oralmente há gerações. Em Sertânia, a expectativa é semelhante: “Aqui nos chamou atenção a história do fundador da comunidade, que possui uma ligação com o país africano Benin. Vamos constatar isso, como já vimos então em outros lugares”, afirmou Monteiro.

Mais que genética: saúde e políticas públicas

Os benefícios da pesquisa vão então além do resgate cultural e identitário. Segundo Monteiro, ao mapear a genética das comunidades, será possível também prever e prevenir doenças hereditárias específicas, permitindo que Estado e Município elaborem então políticas públicas de saúde direcionadas às necessidades dessas populações.

Para o professor Maurício, a iniciativa é sobretudo parte de um esforço mais amplo do município para valorizar os quilombolas e a população negra local. “Temos realizado ações que incluem saúde, educação, escola quilombola e agora essa pesquisa genética. Tudo isso reforça nossa luta pelo reconhecimento e valorização da nossa ancestralidade.”

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O projeto DNA-BCT, vinculado ao Ministério da Saúde e patrocinado pela USP, promete devolver às comunidades quilombolas mais que resultados laboratoriais: ele devolve história, pertencimento e, acima de tudo, dignidade.

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Raphael Ribeiro
Raphael Ribeiro
Artigos: 277

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